domingo, 17 de outubro de 2010

O SONHO DA PRINCESA

             Esta é a história de uma princesinha muito corajosa. Mas antes de falar dela, vou apresentar-lhe seu pai, o rei.
            O rei era viúvo é tinha três filhas: Carolina, Vanessa  e Clara. Cada uma possuía um dom diferente.
            Carolina, a mais velha, tinha a pele dourada e os olhos cor de mel; seu dom era o do canto. Cantava como um pássaro. Todas as manhãs, ao acordar, ela presenteava seu pai com um pequeno recital, em que cantarolava e assoviava, lembrando as melodias entoadas pelos bem-te-vis, rouxinóis e pardais.
            Vanessa, a filha do meio, era loira e tinha os olhos azuis como o céu. Seu dom era o da culinária. Ela sabia fazer os docinhos mais delicados e deliciosos do mundo. Cajuzinho, brigadeiro, quindim, beijinho, cocadinha --- tudo em que punha a mão ficava macio e apetitoso.
            Os doces pareciam pequenas pedras preciosas e deliciavam o rei e as princesinhas a cada manhã.
            Clara, a mais nova tinha a pele branca e a face rosada e cabelos longos e vermelhos como o fogo. Eram tão brilhantes, os cabelos, que refletiam a luz e imaginavam tudo, como se espelhassem a alma das outras pessoas. Clara tinha um dom especial. Ele sentia o que as pessoas e tinha sonhos premonitores.  Tudo que sonhava se realizava.
            O que ainda não contei é que o rei, embora tivesse orgulho de suas filhas, era um homem muito rígido, Qualquer desvio era motivo de punição. Por isso, as três princesas cumpriam tudo aquilo que ele ordenava.
            Clara era a que mais sofria, pois todas as manhas o rei lhe perguntava sobre o que havia sonhado. Ele desejava saber de antemão o que aconteceria em seu reino. Para agradar ao pai e soberano, a menina obedecia sem pestanejar.
            Certo dia aconteceu uma verdadeira tragédia! Clara teve um sonho que iria mudar o destino de todos. E quando o rei lhe fez a pergunta de todos os dias, ela não teve saída a não ser contar a verdade...
            ---- Meu rei, eu sonhei que vivia num castelo maravilhoso e que todos os reis do mundo vinham beijar–me a mão, inclusive o senhor.                                       
            ---  Que está dizendo sua insolente? --- perguntou o pai furioso. --- Isso é um absurdo! Eu sou rei! Você é quem deve me beijar a mão! Estou indignado com seu atrevimento!!!
            O rei ficou mesmo uma fera. Furioso. Vermelho de raiva. Roxo de fúria. Não suportava ouvir que sua filha pudesse se tornar mais poderosa do que ele próprio. Sua arrogância era tão grande quanto seu reino; seu orgulho tornava-o cego, surdo, e mudo, e fazia congelar seu coração.
            --- Vou mandar cortar-lhe todo o cabelo. Depois, você será expulsa deste castelo. Quero que suma da minha frente, para e que nunca mais eu tenha de me lembrar dessas palavras absurdas!
            A princesinha ficou imensamente triste. Tão triste que se tornou a imagem da própria tristeza. Nada tinha a dizer em sua defesa. Não que tivesse do que se defender, pois seu único pecado tinha sido dizer a verdade. Clara só teve tempo de dar um abraço em suas irmãs antes de adentrar a floresta, acompanhada de um dos soldados de seu pai, que havia sido incumbido de lhe cortar a linda cabeleira mágica.
            O soldado, contudo, teve compaixão da menina. Ficou com tanta pena que resolveu desobedecer um pouquinho a ordem do rei: cortou apenas alguns cachos de seu cabelo e trançou-os com uma palha bem fininha que tirara de uma árvore da floresta. Colocou a trancinha num pequeno baú, cobriu-a com um tule branco e enviou-a para o rei.
            Naquela floresta enorme e escura, sozinha, a princesinha parecia um grão de areia. As árvores gigantes e copadas lhe davam arrepios. Longe do castelo pela primeira vez, Clara sentiu medo.
            De repente, entre as árvores como num passe de mágica, abriu-se uma grande porta que a convidava a entrar. Apesar de assombrada, a menina resolveu aceitar o convite.
            Assim que Clara entrou, lhe foi servido um delicioso jantar. Havia de tudo naquela mesa: peixe, água fresca, cajuada, doce de jenipapo. Assim que ela se sentou, surgiu à sua frente um belo rapaz, que lhe abriu um sorriso
            --- Faz muito tempo que observo você, Clara. Entre todas as moças de todos os reinos deste mundo, você é a mais bonita, a mais bondosa e a mais talentosa  Por isso, gostaria que se tornasse  minha esposa e companheira.
            Apesar de ter gostado do rapaz e das coisas que lhe dissera, Clara engasgou de susto.
            --- Mas eu nem o conheço! --- declarou a jovem, boquiaberta.
            Então o moço acrescentou:
            --- Você pode ficar hospedada neste castelo mágico. Assim, poderá me conhecer sem presa.
            Clara, que não tinha mesmo para onde ir,concordou.
            Um ano se passou. E com a convivência, Clara se apaixonou pelo rapaz, que era, na verdade, o rei mais poderoso dentre todos.
            --- Eles marcaram a data do casamento e convidaram os reis de todos os reinos, mesmos dos mais distantes, inclusive o pai de Clara, para compartilhar aquele emocionante acontecimento.
            Quando o rei a viu, mais bela do que nunca, com seus longos cabelos vermelhos espelhados de tanto brilho e a sua pele branquinha como o vestido da noiva que usava, começou a chorar de arrependimento. Na verdade sentia uma saudade imensa da filha.
            A princesa que sentia uma saudade igualmente grande e que compreendeu a fragilidade do pai, chegou pertinho do rei e declarou:
            --- Ah, meu pai, não sofra mais! Eu o perdôo por te me expulsado do castelo. O orgulho lhe cegou, mas eu não me deixei cegar pelo rancor.
            E, assim dizendo, deu-lhe um abraço bem apertado, fazendo as pazes com ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradeço por sua opinião e/ou sugestões